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Slow travel, conheça esse termo

Road Trip e mapa

Você já ouviu falar no termo slow travel? Se traduzirmos literalmente, slow travel significa viagem lenta. Slow travel é um conceito inspirado no já conhecido termo slow food. São filosofias que pregam o ato de desacelerar. Seja enquanto come ou enquanto viaja.

O movimento slow food, criado na década de 1980 na Itália, tem o objetivo de promover uma maior apreciação da comida. Não apenas no ato de comer, mas sim em todo o processo. Priorizando itens regionais, orgânicos, de qualidade, ao invés dos industrializados. Valorizando não somente o produto em si, mas também o produtor e o meio ambiente.

“Tem que”

Então nessa mesma pegada, o slow travel tem como premissa abolir completamente a expressão “tem que” que surge sempre que anunciamos uma nova viagem. “Você tem que visitar tal lugar, tem que conhecer esse museu, tem que fazer um bate e volta até determinada cidade”. Enfim, são muitos “tem que” que ouvimos, não é mesmo?

Mapa e objetos de viagem. Slow travel
Ian Dooley/Unsplash

Você já foi viajar e quando voltou se sentiu mais cansado que antes? Já disse que precisa tirar férias das férias? Eu já me senti assim, muitas vezes. E isso é decorrente desse comportamento frenético que temos, proveniente da nossa rotina, do nosso dia a dia. Sabe a ideia de que precisamos ser produtivos o tempo todo? Isso também acontece durante as viagens. 

Devemos trocar a tentativa de “ver o máximo possível”, por “viver o máximo possível”. O slow travel defende a mudança de quantidade por qualidade, enquanto se viaja. 

Mais presença e intenção

O conceito é de viajar com mais presença e intenção. Coincidência ou não, é exatamente o que prega o mindfulness, a atenção plena. Estar presente e consciente no momento atual, atento, de fato, a todas as sensações. Criando assim, conexão com os lugares visitados.

Além disso, o slow travel potencializa o turismo consciente e sustentável. Se você optar por não ficar “pipocando” de um país a outro, quando vai à Europa, por exemplo, você deixa de utilizar o avião, o meio de transporte mais poluente do mundo, mais que o necessário. Nessa mesma ideia, se você não tem pressa para conhecer todos os pontos turísticos de uma cidade, você pode caminhar por ela com mais calma, utilizar bicicletas para se locomover e até mesmo o transporte coletivo.

Painel de informações. Slow travel
Jeshoots/Unsplash

Outro ponto interessante que o slow travel adota é sobre o turismo de experiência. Qual é o seu verdadeiro objetivo em uma viagem? Se é dar check no máximo de pontos turísticos que conseguir para postar fotos no instagram, você está fazendo errado. 

Estamos conectados quase 24 horas por dia, sete dias por semana. Não seria desejável que, em uma viagem de férias, tentássemos nos desconectar um pouco? Para assim nos conectarmos com a cultura local, captarmos novos aprendizados e para estarmos abertos a novas experiências e oportunidades que uma viagem nos proporciona. 

JOMO – Joy of missing out

Outro conceito difundido pelo slow travel é o JOMO (joy of missing out), que em português significa a alegria de perdermos algo. Que vai contra a ideia de FOMO (fear of missing out), ou o medo de perder alguma coisa. Em uma viagem, jamais conseguiremos visitar tudo o que o lugar tem a oferecer. Prioridades precisam ser definidas para você não frustrar as suas expectativas

Prioridades
Mapa com diversos locais marcados. Slow travel

O que você quer muito conhecer? Qual a sua vibe? Qual o seu estilo de viajante? Do que você não abre mão? Tenha isso claro e definido para a partir daí, criar o seu roteiro de viagem. Lembrando sempre que esse roteiro não deve ser rígido. Deixe alguns dias ou turnos sem nada programado. Seja flexível e esteja aberto as boas surpresas que podem aparecer no caminho.

Uma última dica é: Pare e observe. Eu sempre coloco em prática essa atividade quando viajo. Pode ser em um café ou em um parque da cidade. Sente e observe a vida acontecendo, os locais, a rotina dos moradores. Contemple o que está ao seu redor. 

Como praticar o slow travel?

Caso você deseje, a partir de hoje, começar a praticar o slow travel nas suas viagens, fique atento para essas dicas. Se achar muito complicado aplicar todas as sugestões de uma só vez, experimente uma a uma. Pode ser uma maneira mais tranquila de criar esse comportamento.

> Roteiro flexível

No momento de criar o seu roteiro de viagem, não preencha TODOS os minutos do seu dia com mil e uma atividades. Um bom planejamento tem que ter tempo para descanso também! Tente criar um roteiro flexível, com a possibilidade de alterar os dias de certos passeios, caso necessário. Boas surpresas e oportunidades podem acontecer, esteja aberto e preparado para elas.

> Definir prioridades

Como falei anteriormente, qual é a sua prioridade para a viagem em questão? Por exemplo, se você vai para Nova York e não abre mão de assistir a um musical da Broadway, ótimo, se programe para isso e até compre ingressos antecipadamente se julgar necessário. Mas tenha muito claro o que é que você realmente quer fazer. Para não ficar perdido e acabar sendo influenciado por toda a lista dos “tem que” que cada destino oferece.

> Ignorar os milhares de “tem que”

Como também já foi falado, tente não fazer com que todas essas “obrigações” definam o seu roteiro. É você quem vai viajar, portanto é você quem manda no que vai fazer durante sua viagem! Claro que é bacana ouvir experiências de pessoas que já estiveram no lugar para onde você vai, mas não deixe que isso se sobressaia sobre suas vontades. Não adianta te falarem para visitar 359 museus em Londres, se você odeia museus! Entende?

Pessoa no museu. Slow travel
Ioana Cristiana/Unsplash
> Hospedagem

Se possível e se todas as circunstâncias permitirem, se desafie a se hospedar fora dos centros 100% turísticos. Uma boa opção é fazer Couchsurfing, no qual você se hospeda na casa de um morador local e acaba, inevitavelmente tendo um contato mais próximo com a cultura.

> Caminhar pela cidade

Eu, particularmente, amo caminhar despretensiosamente por uma cidade nova. Descobrir cantos que não estão nos guias turísticos é muito especial. Se você viajar de uma forma mais slow, não terá pressa para ir de um lugar para outro e poderá desfrutar mais dessa maneira de locomoção. Alugar bicicleta também é uma ótima dica.

> Free Walking Tour

No mesmo sentido da sugestão acima, a ideia do free walking tour é você caminhar pela cidade, mas em grupo e com um guia local! Esse tipo de passeio tem nas principais cidades do mundo, e um detalhe importantíssimo, é que você paga pela experiência, o quanto você quiser e puder!

Se está viajando com o orçamento apertado e não puder despender de uma quantia muito alta, tudo bem. Os guias entendem e estão pré dispostos a isso. Já vi gente dando grandes valores e outros saindo sem poder contribuir.

Dessa forma, você muitas vezes conhece mais sobre a história pessoal do guia, que pode ser nativo daquele país ou não e entende a cidade do ponto de vista dele. é muito legal toda a experiência.

> Ter uma experiência com um morador local pelo Airbnb

Uma sacada genial do Airbnb – site prioritariamente de aluguel de acomodações – é a possibilidade do turista vivenciar uma experiência no destino. Como funciona? Você coloca no campo de pesquisa a cidade e a data em que estará por lá. A partir daí, diferentes experiências desenvolvidas e guiadas pelos moradores locais, aparecem como opção para você, te dando uma oportunidade única de conhecer, aprender e acima de tudo conviver, nem que seja por um curto período, com outras culturas e costumes.

As opções são muito variadas. Você encontra desde atividades ligadas à culinária, até mesmo programações com animais, ou ao ar livre. Alguns exemplos: Aprender a cozinhar com uma família turca, aula sobre história da música e turnê cultural com um DJ cubano, aventura no deserto com um guia de Omã. Enfim, acredito que já deu para ter uma ideia da variedade de coisas que você pode fazer para estar em maior contato com a comunidade local.

Importante ressaltar, não é necessário estar hospedado pelo Airbnb para poder ter acesso a essas experiências. Basta acessar o site e reservá-las.

Conexão

Por fim, muito mais que a conexão com um lugar ou com uma cultura, viajando dessa forma, você encontra conexão consigo mesmo. Você tem tempo para isso. Se viaja tendo que dar check em monumentos e pontos turísticos, dificilmente você consegue parar para a introspecção. Para pensar e contemplar. 

Assim como na vida, não é apenas o ponto final que importa. Assim como em uma viagem, o objetivo não é apenas chegar a um monumento turístico ou tirar uma foto para postar no instagram. Por isso, aproveite o caminho, alugue uma bicicleta, saboreie o deslocamento. Se não gostar de bike, aproveite e vá andando. Mas lembre-se, sempre da forma mais presente e consciente possível.

Espero que tenha ficado claro que viajar não deveria gerar ansiedade, afinal, é pra ser algo prazeroso e que te traga felicidade, no fim das contas. Que você consiga, colocar em prática, nem que seja ao menos uma das ações descritas acima para uma viagem no estilo slow travel. Menos é mais, inclusive no momento de viajar.

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Comments (1)

  1. Que legal! Eu não conhecia o termo. Bem interessante saber que já há até um nome para essa “doença” de querer fazer o maior número de passeios possíveis em viagens.

    Ultimamente as viagens chegam na metade e se tornam desgastantes devido a maratona em ritmo acelerado que aplicamos nos primeiros dias do passeio. E eu acho que esse anseio por “mais e mais” nas viagens, se explica por alguns pontos como: período curto de férias; momento aguardado durante os outros 330 dias do ano; o custo para se deslocar para outros países e continentes. Acho que é natural querer aproveitar o máximo que pode.

    Porém, quando isso prejudica parte da viagem por cansaço, falta de motivação e até “presença” no momento acho que precisa ser repensado. O melhor de uma viagem deve ser o momento em que estamos vivenciando cada novo lugar, fotos pegamos na internet. Por isso, um roteiro que nos permite respirar e usar o slow travel penso que é o ideal! 🙂

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