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Salar de Tara – Deserto do Atacama

Imagem dos Monges de Pacana, Deserto do Atacama, Chile

O Salar de Tara foi o último passeio que eu fiz durante a minha estadia pelo Deserto do Atacama. É uma visita que demanda o dia inteiro e por lá, se chega até quase 5.000m de altitude. Por esse motivo, a indicação é que o passeio seja realizado por último, que é quando você já está acostumado com a altitude. Tendo assim, menores chances de sofrer de soroche (o mal de altitude). A distância de San Pedro até o Salar é de 150km e é o único tour que não cobra um valor de ingresso extra.

Por que foi o passeio que eu mais gostei?

Vamos direto ao ponto, foi no Salar de Tara que eu mais me senti um grão de areia no meio do deserto. Pois as paisagens, tanto do trajeto, quanto do destino, são de uma imensidão, uma imponência, com formações rochosas gigantescas, que fazem com que você perceba o quão pequeno você é diante de toda a natureza do nosso mundo. É indescritível!

Salar de Tara, Deserto do Atacama
A vista do Salar de Tara

Desde o começo do percurso você já percebe que será um dia especial, uma vez que a atração fica na direção da fronteira com a Argentina e a Bolívia, a estrada avança rumo ao impressionante Vulcão Licancabur. Então desde o início você já fica surpreso com tanta beleza. Esse sentimento só aumenta até chegar ao ponto final do passeio.

Além disso, em um certo momento, a van em que você está, sai da estrada asfaltada e vai literalmente pelo meio do deserto, sem delimitações É surreal!! Uma sensação única, onde você depende somente do motorista que está te guiando, é realmente espetacular. Até por isso, para esse tour é indicado que seja realizado com as agências de San Pedro. Já que exige muito conhecimento da área, pois em alguns pontos não há nem sinal de telefone.

Mas, o real motivo de eu simplesmente ter elevado essa experiência ao primeiro lugar de todas as que eu vivi por lá, é muito além da paisagem exuberante e do sentimento singular de estar andando pelo meio do nada. Foi algo que transcendeu todas as minhas expectativas. Senta que lá vem história, hehe.

O que aconteceu?

Tudo começou normal, o micro ônibus me buscou na porta do hostel na hora combinada. Fizemos a primeira parada, tomamos café da manhã no meio do deserto (que está incluso no passeio), tudo ótimo. Chegando perto da outra parada – Monjes de la Pacana – que são formações rochosas esculpidas pelo vento, percebi que havia um problema. Já que o guia e e o motorista começaram a trocar ideias e fazer algumas ligações, sabe-se lá para quem.

Monjes de la Pacana
Um dos Monjes de la Pacana

Em um certo momento, o guia reuniu todo o grupo – eram em torno de 16 ou 18 pessoas – e nos apresentou a triste realidade. O veículo, no qual estávamos, estava com um problema motor e não conseguiria ir adiante, justamente por ter ainda que sair da estrada e seguir viagem pelo meio do deserto pedregoso. Enfim, era muito arriscado continuar dessa maneira. Visto que, como mencionei, se algo acontecesse com o carro mais adiante, corria-se o risco de não haver nem sinal de telefone para chamar um resgate.

E agora?

Bom, foi uma comoção total no grupo, todo mundo ficou frustrado e chateado com a possibilidade de ter que voltar a San Pedro e perder o dia inteiro que estava reservado para conhecer o Salar de Tara. No meu caso, perderia não só o dia de passeio, mas também, não teria como recuperar, pois era o meu último dia de viagem.

Então o guia começou a conversar com outros guias que se encontravam no local – relembrando, isso aconteceu em Monjes de la Pacana – para ver se tinha lugar em seus respectivos veículos e se conseguiriam acomodar o máximo de pessoas do grupo. O problema era que não tinham tantos grupos assim por lá e a maioria estava com o carro lotado.

Depois de percorrer e conversar com todos os guias e grupos que estavam por lá, o guia conseguiu apenas quatro vagas para nos reacomodar. Desespero, não é mesmo? E como ele escolheria quem seguiria viagem e que voltaria?

Ele catou diversas pedrinhas claras do chão e entre elas escolheu quatro pretas, que representavam quem iria adiante. Colocou-as no seu gorro e cada um tinha que tirar uma. Quem tirasse a pedrinha cor de areia já sabia que teria que voltar pro carro rumo à San Pedro.

Quando tem que ser, será

Acredito muito na força do pensamento, na intenção que você coloca nas coisas, em energias, na sincronicidade do universo, no que tem que ser, será. Enfim, crenças à parte, mentalizei de uma forma muito positiva e peguei uma pedra.

Detalhe: estava com meu namorado, então de nada adiantava um só tirar a pedra, pois a graça toda estava se os dois conseguissem visitar o tão esperado Salar de Tara. Assim, nós dois pegamos e resolvemos abrir a mão no mesmo momento, só para ser mais emocionante. E não é que nós dois tiramos as benditas pedras pretas? Saímos correndo em direção ao carro que nos aguardava, transbordando de felicidade!

A pedrinha preta virou da sorte. E a experiência inesquecível estava recomeçando naquele momento.

Assim que entramos na nova van – que era mais apertada que a antiga e com um grupo já super entrosado – pegamos os dois últimos lugares espremidos quase no bagageiro. Mas, quem se importa?! Poderia ser muito pior. Poderia ter perdido esse passeio.

A guia e motorista, uma mulher singular e simpática, que demonstrava muito conhecimento, ligou o rádio e colocou um bom e velho rock para tocar. Só de lembrar, me arrepio! Tocava Creedence Clearwater Revival enquanto íamos sacolejando pelo meio do deserto rumo ao tão esperado Salar de Tara.

Catedrais de Tara

As Catedrais de Tara são formações gigantes surgidas há milhares de anos, provenientes das cinzas de um vulcão durante sua erupção. Na realidade, a região toda trata-se de uma zona vulcânica, que fica dentro da Reserva Nacional los Flamencos.

Catedrais de Tara
As Catedrais de Tara

O visual das majestosas catedrais é de tirar o fôlego. Tem-se uma vista linda do Salar que dá nome ao passeio e é nele a última parada para almoçar.

Salar de Tara
O Salar de Tara

Informações gerais

O Salar de Tara é um passeio com duração de um dia inteiro. Sai por volta das 8h da manhã e retorna de tarde para San Pedro. Esteja atento a isso.

Por lá não tem estrutura alguma, nem banheiros. Por isso, leve papel higiênico e álcool gel para utilizar no ‘banheiro inca’. Nesse passeio, provavelmente estará incluso duas refeições: café da manhã e almoço. Portanto, leve apenas água para se hidratar. É importante manter-se hidratado, pois isso ajuda a evitar o mal de altitude. Como já mencionei, nesse passeio, chega-se a 4.800m de altitude.

Por se alcançar elevadas altitudes, faz frio! E na maioria das vezes, também venta forte. Logo, vá bem agasalhado e com os acessórios adequados – manta, luva e gorro. Nem que você tenha que ir tirando ao longo do dia. Por esses mesmos motivos, não esqueça do protetor labial e de chapéu! Ah, lembre-se também do filtro solar.

Enfim…

O passeio é um dos mais aguardados do deserto. Entretanto, não posso negar que ele ficou muito mais especial depois dessa vivência toda. Imagino que poderia ser qualquer destino, na verdade, mas foi o jeito que as coisas aconteceram, foi o fato de ter conseguido seguir com o passeio, que fez a viagem para o Deserto do Atacama finalizar com chave de ouro.

E você, tem alguma história de viagem incrível? Me conta aqui nos comentários, vou adorar saber. 🙂

Para ver outros passeios no Deserto do Atacama, acesse aqui. Já se sua dúvida é com o que levar para lá, escrevi um post sobre isso. Espero te ajudar.

Comments (2)

  1. Muito boa a história! Que sorte tivemos! Me deu um frio na barriga novamente lendo a parte da retirada das pedras do gorro do guia, heheheh. Acho que o Deserto e esse dia mostram como, por vezes, ficamos a mercê da sorte, da natureza e outros fatores. Mas concordo com o que tu disse a respeito de ter o pensamento focado que tudo daria certo e conseguiríamos fazer o passeio conforme programado!

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